Poemas:

Poemas de Pe. José de Anchieta

 

Jesus na manjedoura

 

- Que fazeis, menino Deus,

Nestas palhas encostado?

- Jazo aqui por teu pecado.

 

- Ó menino mui formoso,

Pois que sois suma riqueza,

Como estais em tal pobreza?

 

- Por fazer-te glorioso

E de graça mui colmado,

Jazo aqui por teu pecado.

 

- Pois que não cabeis no céu,

Dizei-me, santo Menino,

Que vos fez tão pequenino?

 

- O amor me deu este véu,

Em que jazo embrulhado,

Por despir-te do pecado.

 

- Ó menino de Belém,

Pois sois Deus de eternidade,

Quem vos fez de tal idade?

 

- Por querer-te todo o bem

E te dar eterno estado,

Tal me fez o teu pecado.

 

A Santa Inês


 Cordeirinha linda,
Como folga o povo,
Porque vossa vinda
Lhe dá lume novo.

 

Cordeirinha santa,
De Jesus querida,
Vossa santa vida
O Diabo espanta.
Por isso vos canta
Com prazer o povo,
Porque vossa vinda
Lhe dá lume novo.

 

Nossa culpa escura
Fugirá depressa,
Pois vossa cabeça
Vem com luz tão pura. 
Vossa formosura
Honra é do povo,
Porque vossa vinda
Lhe dá lume novo.

 

Virginal cabeça,
Pela fé cortada,
Com vossa chegada
Já ninguém pereça;
Vinde mui depressa
Ajudar o povo,
Pois com vossa vinda
Lhe dais lume novo.

 

Vós sois cordeirinha
De Jesus Fermoso;
Mas o vosso Esposo
Já vos fez Rainha.
Também padeirinha
Sois do vosso Povo,
pois com vossa vinda,
Lhe dais trigo novo.

 

Não é de Alentejo
Este vosso trigo,
Mas Jesus amigo
É vosso desejo.
Morro, porque vejo
Que este nosso povo
Não anda faminto
Deste trigo novo.

 

Santa Padeirinha,
Morta com cutelo,
Sem nenhum farejo
É vossa farinha
Ela é mezinha
Com que sara o povo
Que com vossa vinda
Terá trigo novo.

 

O pão, que amassasses
Destro em vosso peito,
É o amor perfeito
Com que Deus amastes. 
Deste vos fartasses,
Deste dais ao povo,
Por que deixe o velho
Pelo trigo novo.

 

Não se vende em praça,
Este pão da vida,
Porque é comida
Que se dá de graça.
Oh preciosa massa!
Oh que pão tão novo
Que com vossa vinda
Quer Deus dar ao povo!

 

Oh que doce bolo
Que se chama graça!
Quem sem ela passa
É mui grande tolo,
Homem sem miolo
Qualquer deste povo
Que não é faminto
Deste pão tão novo.

 

 

A carta de Pero Vaz de Caminha

 

É considerado o primeiro documento escrito da História do Brasil. Assim, é considero o “marco zero” ou o pontapé inicial para a construção da história Brasileira após o descobrimento. O termo “descobrimento” é muito questionado hoje em dia, pois quando usado nos faz esquecer que estas terras já eram habitadas por índios.

Vaz de Caminha era escrivão da frota de Pedro Alvares Cabral, e redigiu essa carta para Dom Manoel I, conhecido também como “O Venturoso” ou “Bem Aventurado”, para comunicar-lhe o descobrimento das novas terras.

A Carta é datada em 1° de maio de 1500; a cidade onde estavam era Porto Seguro, e foi levada para Lisboa por Gaspar de Lemos, um grande navegador desse período.

Tal carta manteve-se conservada inédita por mais de dois séculos no Arquivo Nacional da Torre do Tombo. Esse Arquivo está localizado em Lisboa, e existe no Estado português desde a Idade Média possuindo mais de 600 anos; é uma das instituições mais antigas de Portugal e uma das únicas ativas até hoje. Foi descoberta no século XVIII por José de Seabra da Silva, mais precisamente em 1773. Foi noticiada pelo historiador espanhol Juan Bautista Munoz, e publicada pela primeira vez no Brasil pelo Padre Manuel Aires de Casal, um português, que além de padre desempenhava a função de geógrafo e historiador, e viveu no Brasil durante muito anos. Tal publicação ocorreu em sua obra denominada como “Corografia Brasilica” de 1817.

A carta é o exemplo típico do deslumbramento dos Europeus para com o novo. No caso o “Novo Mundo” como eram chamadas as Américas. Caminha documenta algumas características físicas da terra encontrada e o momento em que enxergaram um monte, denominado logo depois por Pedro Alvares Cabral como"Monte Pascoal ”. Logo após, ele narra o desembarque dos Portugueses na praia, o primeiro contato com os índios e a primeira missa realizada na terra descoberta.